As experiências ressoam em todos
os passos que damos- os dramas, as despedidas, os desencontros. E de alguma
forma maluca, ainda continuamos expostos aos mesmos machucados, como num loop
onde as memórias são mais parecidas com fantasmas desdenhando de nossos erros
(e acreditem, são muitos erros). Esses eventos que mexem muito conosco quando
estamos nos vinte anos e temos certa tendência ao sentimentalismo. Naquela
idade em que se percebe que nossa história passada é formada mais de rabiscos
do que linhas concretas e que o que está por vir não deve ser tão diferente.
Nós perdemos, mas continuamos. Um jogo cíclico e cínico de risadas, arrependimentos,
discussões, indecisões. Como se a vida fosse sempre um teste que temos a
certeza que está tudo armado e não vamos passar. Pensem nesse disco como uma
catálise dessas sensações. Mas pensem também como uma pausa da experiência concreta
com elas e um momento, no fim do dia, exaustos do trabalho, para pensar em
tudo. Ou absolutamente nada.
É muito clichê falar em maturidade,
até porque as canções depõem sobre incertezas que se enfrentam na vida. Mas
nada no primeiro disco cheio da banda soa “fora de lugar”. Ao contrário, chega
a ser ridículo a experiência que a gravação inteira exala. E que me remete
muito as bandas dos anos 90. As emoções dos vocais variam desde linhas mais
cadenciadas e aparentemente mais “sóbrias”, até partes em que as letras são
praticamente faladas, como um desabafo. Os tempos difíceis se aproximam, e não
sabemos se os caminhos que tomamos estão certos. Aliás, nem sabemos de fato porque
ou como chegamos aqui. Não quero que pareça que esse disco se “resuma na incerteza”;
é mais sobre a confusão dos dias, o turbilhão da memória, o futuro confuso e
difuso. De fato todo álbum é uma jornada, e esse disco relata a perda do
controle, especialmente quando vemos tudo que planejamos ruir. Home Drive, Long Night expressa essa
introspecção, em constante movimento, mas sem ter a certeza de onde ir ou a
origem de nossos caminhos.
São estruturas do cotidiano que
fazem a banda passear por temas em que tantas interrogações figuram. Eles sabem
que tudo é instável e que vamos envelhecer instáveis e que as contas vão chegar
ao fim do mês. Mas, obviamente, é impossível remover as dificuldades e então é
sempre como agimos nessas situações. Enquanto avançamos na gravação e escutamos
consecutivas vezes, podemos notar os pontos focais em que as faixas se imanizam.
É sempre um transe constante entre prisão/necessidade/ movimento contínuo.
O Better Leave Town opta por expressar as visões e a partir daí (dessas
microssituações sempre específicas) discorrer sobre os temas diários que pesam
sobre nossos ombros. Mais do que um extravaso, são reflexões sobre essa coisa estranha
que chama passado e essa entidade estranha que por acaso tem um corpo. São
determinações densas profundamente pessoais, no atrito constante entre o ritmo
enérgico mais “cativante” e uma espécie de sobriedade introspectiva, onde os riffs altos soam exatamente essa
ambiguidade. Tenho muita convicção de que se você costuma gostar das bandas
voltadas ao “emo” que posto nesse
blog, você vai sentir um compartilhamento com o BLT. Cada música gera um campo
de análise e são analises empíricas, atravessadas e que se expressam na música
para poder garantir uma existência, também. Se não captamos quem éramos
anteriormente, então mudamos um pouco e o mundo girou. E é com a honestidade e
crueza que encontramos nesse disco que podemos ter certeza que as coisas estão
mudando. Para onde, não se sabe.
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