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terça-feira, 13 de novembro de 2018

escrita contínua para o fim do mundo

Céus coloridos que víamos enquanto partíamos sem direção. Enquanto sorrisos convidativos eram o suficiente para preencher os dias. Passávamos horas em frente aos locais da cidade que hoje foram substituídos. Como se a distância fosse sólida o bastante para ser pungente. Desejando que ficássemos juntos para sempre, como se pudéssemos levar as amizades para sempre. As coisas não tinham importância; a não ser a noite inebriante, a não ser os planos que tinham gosto de agora. Tudo o que amávamos; os posteres das bandas, a bola que eu chutava no seu portão, o pega-pega na rua: uma torrente de falta me toma, como se eu fosse incompleto por atender às nossas expectativas.

Sonhei com minha contínua morte nesta última madrugada. Não havia melhor amigo para puxar a minha mão como quando ocorreu naquela chácara, enquanto a criança que eu era se afogava. O brilho das luzes sobre a superfície aquática numa longa e bonita e distante noite em alguma praia do litoral paulista. Já podíamos beber e fazíamos tudo errado. Terminamos com eu chorando e pulando, de roupa e tudo, no mar escuro da madrugada.

Eu prometi que não cairia, eu prometi que seguiria em frente. Mas o que significam as promessas quando a quem elas foram feitas está embaixo da terra? Ainda se pode falar em honra, em compromisso, em dignidade ou em fé? Os acordos íntimos ficam anulados porque a morte existe? Ou o amor se transforma em saudades porque não se pode amar o que não existe mais? Agora que eu vivo sozinho, eu pergunto onde iria parar se não fosse aquele orgulho incestuoso de estar certo, de preencher as lacunas ocupáveis por mesquinharias que não trouxeram nada. Essas coisas foram ditas, esses vazios foram escancarados ruindo as relações que batalhávamos para travar em função de equívocos, em função dum medo absurdo de não sermos engolidos pela serenidade arbitrária da noite.

Os dias têm se estendido sem movimento algum. Como se a turbulência das circunstâncias fossem acontecimentos exógenos resplandecendo num marasmo sem relação de causa e efeito.

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