Quando percebi você estava com as suas mãos sobre as minhas, fazendo me sentir acolhido pela primeira vez em meses. Eu ,quem tive poucos corpos tão próximos a mim, senti que aquele tipo de proximidade era algo que eu precisei a vida inteira, andando em círculos em torno de um desejo abstrato que nunca sabia ser possível materializar. Eu tenho mastigado aquele momento desde então, retardando a digestão para viver o máximo possível no exílio da lembrança e atrasar o acontecimento da realidade. Quando eu retribuí o carinho e a Liberdade mostrava-se lotada, eu lembrei as vezes em que caminhei por aquela praça sozinho pensando se um dia seria possível o milagre do acontecimento. Iludimo-nos de que duraríamos para sempre, pois precisávamos da confirmação do amor para fazer sentido toda aquela baboseira. E no êxtase do que nomeamos Província Amorosa criamos um retiro para negar tudo o que efetivamente acontecia. Todas as manhãs eu abria meus olhos procurando uma forma de mandar-lhe uma mensagem para provar a mim mesmo que o amor ainda era possível. Incapaz de ver que eu envelhecia sem cultivar nada além da necessidade de provar, para mim e para todos, que eu estava embutido numa narrativa e que, de alguma forma, essa ficção que chamava minha vida podia ser um alívio da realidade. Alimentado com a opressão dessa noção gigantesca e uma esperança ínfima de que algo como amor fosse possível e desejado.
Reality Generator -Petras Kostinas |
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