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terça-feira, 9 de junho de 2015

Timbre - Sun & Moon [2015]

Não é possível estabelecer quantas formas podemos vivenciar um disco. É impraticável forjar uma união de conceitos para entabular qualquer ponto em comum. A não ser pela semente onde tudo começa. Encontra-se em um álbum um ponto pelo menos que será compartilhado, a partir daí surgirão ramificações, aprendizados diferentes. Há quem tenta chegar à raiz e busca “compreender as ideias do artista”, há quem simplesmente não leve tão a sério e escuta enquanto se masturba. Esforçam-se todos, no entanto, se agarrar em escapes mais palpáveis. Há um ponto em comum nisso tudo e acho que obras tão essencialmente harmoniosas quanto Sun & Moon podem estabelecer bifurcações diante de todos os desencontros possíveis.

Nas vivências que Sun & Moon proporciona, existe um grande clima de “sentir-se” acolhido. Os acolhimentos possíveis que brotam do álbum nascem do silêncio que este sugere, de instantes mais solitários, porém imagéticos, fazendo com que as projeções internas adquiram vida e situações possíveis. A contemplação também modifica nossos sentidos, e é nas instabilidades que o ato de contemplar pode gerar que se crava o dever da cantora Timbre. Com essas canções ela tenta desenhar na pele manifestações potencialmente submersas. Sun & Moon é justamente essa transferência do intangível para uma forma musical. As estruturas tradicionais (e aqui se encontra uma tradição mais antiga, folclórica) dão vazão aos nossos sentidos que precisam ser mais apurados e exercitados.

As mudanças de estilo refletem a mentalidade mais obscura de Timbre. Ela constrói esses ambientes que, obviamente, são bonitos, mas há doses consideráveis de negatividade em suas indagações. Essas diferenças revelam estados alternados. Não falo de uma ambiguidade que o título possa sugerir, mas algo mais complexo que “modifica” o espírito da cantora e instrumentista ao decorrer do disco. Há uma solidão onipresente e o que se pode encontrar em todas as músicas são reflexos divergentes do mesmo isolamento. O que ressoa e o que “poderia ressoar” são exaltados. Pode-se pensar que esse transe que Timbre expressa é de uma sensação incerta, porque esse distanciamento aumenta a maravilha dos fenômenos das coisas e também se torna fonte para dúvidas mais angustiantes.

Claro que essas angústias são “peneiradas” por toda a docilidade que a abordagem de Timbre sugere. O que acontece -como dito acima- é que toda a apreensão e insegurança que a segunda metade do disco revela é apenas um espelho da mesma “beleza” que a primeira metade estetizou. Porém, na etapa do disco que mimetiza a noite, a solidão perde seus movimentos livres para tornar a diversidade visual mais íntima. É como se Timbre revelasse sua grandeza e sua timidez perante a mesma paisagem. O que muda não é a cantora, mas sim a disposição da luz. Isso registrado, que fique claro que não há uma ambiguidade forçada no disco. Ela guarda a iluminação potente do dia em algum recanto de seu corpo. Timbre deixa claro que não vai se esquecer da paisagem matutina mesmo nas noites mais escuras.


Todo o percurso de uma hora e vinte desse disco é na verdade uma rotação em torno do mesmo lugar. É um álbum de insistência e paciência. Mas Timbre recorre a um método que pulveriza qualquer chance de monotonia- ela entrega há esses mesmos ciclos diários uma contemplação composta por devoção e incertezas. Esse aglutinado de sensações carrega imagens tão necessárias para evitar qualquer repressão, em um mundo onde oposições tão radicais têm de coexistir. E se a existência já carrega contradições angustiantes e pesadas, como também não se maravilhar pela simples possibilidade de tais disparidades estarem dispostas?

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