Formas indefinidas e contornos
labirínticos se alternam à medida que Momentum I adere minha percepção. Eu tento,
de alguma forma, encontrar elos que se conectem, mas o direcionamento que os
ruídos apontam é inesperado, no caos dos seus detalhes- sons que brotam sem
aparente origem e impactam com vozes quebradas, sussurros silenciados pelas
próprias contraposições oferecidas na peça.
O acúmulo de espectros
divergentes promove outra sensação de atravessamento no tempo, onde a percepção
de continuidade é diferente da “habitual”. Empregar termos é inútil frente ao impacto
dos registros obscuros, uma espécie de “onde estamos?”, “como eu vim parar
aqui?”. As nossas concepções, a maioria delas reducionistas, são postas em
xeque, exatamente por isso o único modo de analisar essa peça é através da
experiência, não como modelo teórico (embora tenha certeza que não faltem
embasamentos desse tipo), mas deixar Caron
te guiar por esse universo obscuro.
Como a estrutura varia, à maneira
que somos tomados por inter-rompimentos bruscos, contrastes sonoros- a
importância do espaço íntimo ao nos controlar pelas nuances, pelos desvios. Caron consegue a proeza de embutir uma
angústia contínua à medida que a peça avança e se incorpora. Também a
exploração de microdetalhes injetados na vastidão dessa espécie de “pesadelo”
proporcionada- ficamos mudos enquanto diferentes imagens surgem e desaparecem.
Sem dúvidas os estudos de Caron devem
influenciar muito na sua criação, mas o que fica pra mim são repetições
orientadas mais pela intuição, uma intromissão de outro espaço temporal na
nossa noção de realidade.
Como está no release, 8² vem
sendo manipulada por Caron desde
2008, e eu penso como um período relativamente tão grande pode influenciar e
modular a mesma obra, óbvio que não vou saber a resposta porque ouço a peça
pronta em pleno 2014, mas ainda assim me pergunto qual foi a orientação de Caron, pois talvez esse universo que em
sua aparência é tão “ilógico” tome nossa intimidade por completa. Obviamente
que fico desprovido de respostas, mas à medida que vamos avançando, surge
dúvidas quanto à necessidade destas- são sensações que tocam mais que o
aparente, mais do que os conceitos. Estamos em um ambiente de outro tempo. Fomos
invadidos.
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