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quinta-feira, 5 de julho de 2018

discos favoritos - 1º Semestre, 2018

Bill $aber - Kill Everything



A produção onipresente do disco dualiza com os vocais ásperos, como se o que é criado dentro desse monstruoso ambiente fosse impossível de ser domado.
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Cities Aviv - "Raised for a Better View"



Raised for a Better View é construído como uma explosão de recortes, que figuram entre diferentes contextos subjetivos do Aviv para compor um todo disforme. Encontra-se um rapper falando sobre relacionamentos, depressão, fardos. É um disco  consciente sobre seu próprio discurso, mas em vez de frear ou minimizar os versos, essa consciência tem a noção expansiva necessária para bombardear quando preciso. Evidencia contextos diferentes de um mesmo artista e a presença constante de um "eu" abstrato que sempre desconfia das próprias impressões. Ouça andando em um dia cansativo de muito calor enquanto os sintetizadores destorcidos e os versos diretos inflamam seu imaginário, construindo um universo  difuso e, por isso, passional.
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Silvia Kastel - Air Lows



O quinto álbum da artista oferece um minimalismo misterioso, em que cada encadeamento, em vez de formar uma narrativa cronológica, surge como imanência sonora.
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Rhye - Blood



O quinto álbum de Rhye cria uma ambiguidade sonora que se relaciona com o ouvinte sempre de uma maneira diferente a cada audição.
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Kanye West - ye



É envolvendo-nos em suas contradições que o álbum consegue ser fidedigno das complexidades que a vida exige. Kanye West destina toda sua agressividade, redenção e empatia ao mesmo todo. Nessa tenuidade movediça que ele caminha e faz suas afirmações, sem tentar adentrar qualquer terreno específico. É uma performance musical em honra a pessoa que se é, a que se deseja ser e o eterno movimento de ruptura-reconciliação que isso envolve. O rap recontextualiza as predileções morais pra puxar o ser ao seus extremos e mostrar suas ações enquanto reflete sobre tudo sem parar de fazer o que está fazendo (de fato, almejar ser uma pessoa boa não impede alguém de dizer coisas idiotas. A Internet, meio em que o rapper mais se manifesta, é prova da contradição intrínseca ao fato de ser humano).
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Kink Gong - Dian Long: Soundscape China / Destruction of Chinese Pop



Dian Long apresenta uma relação de retratar a destruição de algo que se ama em prol de uma tentativa impossível de deixar sua essência viva enquanto se remodula sua fórmula.
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JPEGMAFIA - Veteran 



O segundo álbum do rapper é agressivo enquanto recria a cultura a que pertence de forma dissonante, estendendo as possibilidades sonoras até elas mesmas alinharem-se ao conceito maníaco do disco. Parece o ecletismo virtual invertido e evidenciado como contraponto para uma afirmação tanto individual quanto política, sem seguir agenda alguma.
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Remember - The City Is My Friend



O urbanismo encontra sua representação máxima. Sem nada além do prolongamento noturno, em que cada forma é indiscernível e por isso admirável: os brilhos de neon retraem, a distância interna cresce.
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Delroy Edwards - Rio Grande



São notícias de um emissário próximo que, quando encontra um cômodo pra repouso, decide despejar tudo pelo que passou em sua viagem até aquele local. Como se o horror da travessia fosse apenas outro instrumento, ele conta com certa comicidade as paisagens que viu e as dificuldades que enfrentou. Mas isso nunca seria possível sem imaginação, fragmentação narrativa e aceitação de que muito se perde quando se chega em algum lugar. Ainda assim, ele diz as coisas sorrindo. Suas menções à club music denotam que é possível chegar ao caminho já trilhado através de outras origens (aliás, isso é o que explica alguém do interior de Minas Gerais ficar tão empolgado com esse registro). O mundo, especialmente o da dance music, é apresentado como uma fronteira cuja expansão é sempre possível.
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Christina Vantzou  - Nº4



Nº 4 é obscuro na medida em que ele sempre se revela. Não permite que você afunde na sombra, em vez disso ele se habitua à uma convivência espaçada com os espectros próprios e externos.
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Noah Creshevsky - Reanimator



Pra entender como chegamos aqui, é necessário jamais excluir a capacidade de achar algo estranho e interagir com a estranheza sem predileções em troca. A proposta de Noah Creshvsky é de que a música pode espelhar o mundo não através das obviedades, mas através de uma reformulação constante que nunca se fixa propriamente em um conceito rígido. A análise de Creshvsky é uma recusa à automatização e que, através dessa negação, a música pode ser recebida como uma elemento surpreendente, instigando ouvintes, criadores e críticos. “Reanimator” faz jus a seu nome à medida que se apropria de fiapos de experiências, satirizando-as também, pra reconduzir o ouvinte a acessos impossíveis. Pra Creshvsky, a música tem sempre de subverter a imagem formada pelo criador e também cooptar os sons escondidos atrás da padronização cultural. Mas, veja bem, isso não significa, em medida alguma, abandonar os sons do mundo. Talvez seja através de um processo em que destruição e criação ficam indefinidos que seja possível narrar os sons de onde se vive.
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SOPHIE - Oil of Every Pearl's Un-Insides



Mas depois do processo de diferenciação extremo, surge um futurismo que potencializa coparticipações ativas na formação de uma nova maneira de ouvir música e ser transformado pelos sons. Oil of Every Pearl's Un-Insides, de SOPHIE, é uma crítica ao medo e à covardia da constante transformação proporcionada pela contemporaneidade.

Ser nostálgico não transforma a matéria, mas a paixão pela transformação possibilita outros modos de estar no mundo.
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Pendant - Make Me Know You Sweet



Um mar de harmonias que ondulam e convivem e coabitam e lembram que a vida segue em frente com o atrito contínuo do inesperado.
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Keiji Haino + SUMAC - アメリカドル紙幣よ そのまま横を向いたままでいてくれ 正面からは見られたもんじゃないから



Para esse disco de improvisação, em que a dissonância é o estático -ou seja, tudo tremula sempre-, a caracterização da localização mundana é dada pela emissão de desconformidades, em que uma presença é construída através da sua força magnética contrária à harmonia e ao planejado. Capturados neste caos, os sons ampliam o ambiente, como se a mediação humana otimizasse as possibilidades do espaço. Durante mais de uma hora, o peso se mostra como força-motora que motiva a banda e o músico japonês: parar num mundo, em constante transformação, é impossível; aceita-se o movimento-contínuo para espelhar os ruídos deste local.
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The Voidz - Virtue



O segundo disco da banda é uma transmutação eclética de localizar o "fora" ou o "outro" dentro de uma estrutura objetivamente determinada. Como se as falhas residuais, o que é possível, fosse o conteúdo real do álbum.
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Niño de Elche - Antología del cante flamenco heterodoxo



Eu fiquei encantado em como a inovação formal deste disco é carregada de um expressionismo político combativo, rememorando traumas e batalhas históricas para contar a história de um povo e de indivíduos massacrados e resistentes. Antología é um disco cujas variadas formas de sons (tradicionais e aventureiros) se desdobram para construir um painel sócio-político.
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Michael Pisaro - Étant donnés



Comparando o álbum com as obras ready made, as colagens do músico ambientam o ouvinte em um espaço em que tudo parece protocolar. Eu acho que estou andando num museu burocrata e o objetivo do disco é avisar que não há inovação estilística neste espaço. Étant donnés pode exibir as frestas que permitem o abandono em tal relação midiatizada com a forma de consumo artístico. No entanto, faz questão de referenciar às próprias obras inaugurais que agora se tornaram, também, domadas pelo consumo. Eu espero que Pisaro continue desdobrando-se, como tem feito.
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Nine Inch Nails - Bad Witch



Alguém lembra como era o mundo antes dos Muppets? Alguém lembra quem era o Walter? O fato é que foi ele quem os salvou. Eu lembro que os vilões eram os donos do petróleo. Enquanto é verdade que a relação entre os donos da economia e as bruxas ruins é extremamente próxima, o mundo das reflexões malvadas é onde estamos inseridos. Em Bad Witch, elas são maximizadas e somos nós mesmos em um pânico constante de não ter para onde fugir. O mundo foi tão longe que só pode ser explicado através de um nonsense barulhento? É o que mais me parece plausível.
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The Caretaker - Everywhere at the End of Time - Stage 4



Com o lançamento de “Everywhere At The End Of Time – Stage 4”, The Caretaker observa a superação da doença registrada nos três primeiros a partir da constituição sonora que se relaciona com todos os sons descobertos. Numa sociedade que busca conforto em autoafirmações, a afirmação de Kirby parece algo utópico: reencontrar na própria decadência uma força poética que permita uma nova forma de se relacionar com o mundo, com seu corpo e com sua mente. Bater palmas pra um quarto escuro sempre vai parecer algo apenas bobo, por mais que quem aplauda esteja sorrindo. As opções falsas construíram o cinismo que causou o isolamento das primeiras gravações. Kirby termina o disco com uma ambientação prolongada que abriga ruídos indistinguíveis, mostrando que a tensão entre o que se aparenta e a vontade de criar algo, quando justapostas, são capazes de encontrar paz nos lugares mais calamitosos.
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Natalia Lafourcade - Musas Vol. 2



Alguém ainda vai conseguir explicar, num livro de mais de mil páginas, o que a cantora conseguiu fazer neste disco. Talvez você me perdoe por eu não saber o que falar.
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Mount Eerie - Now Only



Depois de ouvir “Now Only” pela primeira vez e chorar dentro do meu quarto abafado em Santo André, perguntei-me se seria errado escrever sobre isso e sobre o disco. Mas então eu pude lembrar de todas as pessoas próximas que deixaram seu corpo recentemente. De como Phil criou uma paisagem desolada dentro de mim e porque essa desolação sempre é dolorosamente real. A morte é real e seu eco nunca nos abandona.

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