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domingo, 14 de janeiro de 2018

ausência #1

Sua sombra seguiu-me por essas ruas esburacadas, com poças d'água vivas, recém-formadas pela chuva de verão que acabou de terminar. Quietamente eu amaldiçoava meus impulsos irrefreáveis enquanto as pessoas passavam ignorando (quem sabe o inferno de cada um?). O cartão de entrada no mundo do abandono distorcia minha visão e cada retrato flagrado pelos meus olhos construía um símbolo de destituição. Cada objeto na rua guardar sua face é minha obstinação.

Como que bêbado sem beber, eu vomitei no asfalto enquanto uma criança me olhava assustada. Constantemente querendo chorar sem saber que lágrima alguma brotaria. Minha sombra dançou grosseiramente sobre o asfalto manchado, vacilando entre o dejeto do meu estômago e as poças d'água recém-formadas. Não sabendo se o que prendia, ainda, você a mim era o ressentimento ou as coisas não ditas ou o excesso de carinho.

A novela é que daqui a pouco a lua surge e as poças secam e a falta de enredo desta espera constituirá o que no futuro descreveremos como "aquele tempinho ali". Chorando pelado no banheiro, decididamente isso aqui não é um tempinho. Amanhã, com ou sem poças d'água, você ganhará uma vida absoluta nessas ruas novamente. E de novo e de novo.

Quando a lua surgir e eu não puder mais ver minha sombra vacilando sobre poças d'água imprecisas é sua imagem que vou usar para preencher a escuridão. E quando o sol surgir na janela e eu esquecer, por um breve momento, sua ausência eu vou agradecer por mais um dia. E quando eu não puder acreditar em mais nada, fecharei a mão na esperança de que seu calor ainda ecoe.

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