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Então você poderia dizer”, ela continuou, “você poderia
dizer um poema perfeito. Um poema que fala sobre nós, que fale sobre nossa
distância, que personifique a impossibilidade de nós dois. Porque você é o ar.
Você pode tocar a luz e aderir ao esoterismo da palavra, à ascendência original
da terra, ao amor mais colossal e carnal, aos fosseis que dão energia, porque
você é o ar e é o combustível da vida. Seus pulmões iriam se inchar de uma
matéria nova, de uma energia originária que resgataria um tipo de amor mais
essencial e espiritual. Assim, sua respiração retardaria em compassos musicais,
musicando a sinfonia noturna e todas as epifanias vão soar como antigas
celebrações pagãs. Você tem essa missão e, enfim, estaremos juntos em um campo
mais urgente, sentindo o calor um do outro novamente. Você estaria no ar, me
protegendo, e eu seria a lua, te iluminando”. Seus olhos tão potentes quanto
aquele azul, o reconhecimento de que o amor cabe em círculos tão pequenos, tão
vivos. “Você seria o vento que sopra nas rochas cheias, você causaria erosão e
seria a primeira matéria humana que fascina a natureza, numa inversão absurda.
Tão absurda quanto nosso amor, quanto nossa história que já não é mais história
e sim uma fantasia de dois corpos jovens e encantados com o potencial da vida”.
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