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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ornette Coleman- Free Jazz: A Collective Improvisation [1961]


A evolução do jazz alcançou seu ápice nessa obra prima do alto saxofonista. Free Jazz é a antítese de tudo o que o compositor vinha fazendo até então, com evoluções anticlímax e passagens independentes. Não basta ele ter lançado cinco excelentes álbuns anteriormente, legitimando sua legacia no reino jazzista, também teve que renegar tudo o que vinha fazendo e se libertar de suas influências. Nesse álbum, é explorado um submundo do jazz, onde evoluções anulam frases e a palavra “free” é levada ao extremo. Há de se lembrar de que Coltrane só seguiria pelo mesmo caminho apenas cinco anos depois.

Essa música foi uma resposta a todo swing dos anos 50 e be bop dos anos 40, que vinham se acumulando na mesmice e lançamentos repetitivos. Ao contrário do outro maior expoente do jazz livre (John Coltrane), Coleman não tinha uma enorme quantidade de discos quando lançou sua primeira obra reconhecidamente livre. Isso é reflexo de sua impaciência e anseio artístico em produzir. Começando a gravar em 1958, é realmente incrível como em três anos sua música evoluiu absurdamente. 

Para aperfeiçoar as possibilidades sonoras, a arma utilizada foi lançar um “quarteto duplo”: Billy Higgins e Ed Blackwell nas baterias, Charlie Haden e Scott LaFaro nos contrabaixos, Coleman convoca Don Cherry e Freddie Hubbard nos trompetes, e chamando nada mais nada menos que Eric Dolphy para completar a dupla com ele. O modo como esse discou foi planejado é, na verdade, bastante simples; Coleman esboçou rapidamente uma festa musical, onde era realizada a improvisação em grupo e individual, logo em seguida os músicos entraram em estúdio e gravaram. Na configuração estética, há raros vestígios de jazz tradicional. Em alguns pontos, podemos reconhecer uma frase e alguma interação mais clássica entre instrumentos.

Há de se ver Free Jazz não pelo vazio contemporâneo da ausência de sentido (ou a época em que tudo já foi criado). De natureza fortemente experimental, as consequências desse disco refletem a Era vanguardista que parece ser a que vivemos. Eu quero dizer, não estou aqui, no teclado, dizendo que não há mais música inaugural depois do Free Jazz- mas que é vergonhosa a nomenclatura excessivamente abundante que damos a tudo o que é música hoje em dia (eu mesmo sou culpado disso, adoro colocar tags nesse blog). A experiência e distância histórica mostram que Free Jazz foi a erupção de algo que já ocorria na cena jazzista.

O sentido em Free Jazz é o contrário da natureza, ou seja, as oito partes de improviso, começam em um completo caos até que os ritmos vão se encaixando para então caminhar em conjunto. Não há praticamente nenhuma direção inicial, tudo emerge do caos. Imaginem um dixieland tradicional quebrado em multitempos entrecortados. A intenção é demonstrar a música antes da ideia, e seu desenvolvimento enquanto tema e amadurecimento enquanto filtrada pela razão.

Algumas características se mostram frequente ao longo da peça. Dentre estas, Coleman tocando blues. Através de toda a peça, ele volta a desenvolver temas que tem o blues como fonte principal. A banda toda faz isso de alguma forma, reutiliza temas enquanto invoca frases novas em uma estrutura cíclica quebrada. Entre os instrumentos de sopro, às vezes o caos se uniformiza tanto, que até podemos confundir com alguma big band. Entre esse caos e a ação sincronizada, ou seja, no vácuo entre essas duas estruturas (se é que dá para chamar a bagunça de estrutura enquanto música) há espaço para os músicos demonstrarem seu bom humor soltando frases já conhecidas dentro da história jazzista.

37 minutos envolvendo um ambiente sofisticado, onde é possível ouvir basicamente toda a forma de fazer jazz até então. Há espaço para as baterias e os baixos, na última seção de improvisos, onde os instrumentos de sopro só entram para mudar a sequência desenvolvida. Também vale a pena ressaltar a liberdade que nomes já consagrados (como Freddie Hubbard e Eric Dolphy) tiveram para desfilar suas experiências acumuladas. O disco vem com um faixa extra, First Take, para termos noção de como nasceu o Free Jazz. Duas versões mostram que mesmo em um álbum de livre improviso, as ideias demoram em ser completamente amadurecidas.

Free Jazz talvez exista de forma tão exaltada por toda sua primorosa, rigorosa e vanguardista estética musical. Se uma lição foi legada por Coleman é de que a música é sim aspecto do seu meio, mesmo nos níveis mais experimentais, sendo sempre importante reconhecer o contexto histórico. Historicamente e, claro, sonoramente, são os motivos de destaque desse que é um dos maiores discos de todo um movimento!

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