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quinta-feira, 14 de maio de 2015

The Unthanks - Mount the Air [2015]

Acontece que eu sou um grande fã de música “folk” europeia, como um ponto complemente inverso aos artistas mais radicais eletrônicos que têm feito minha cabeça nesses últimos tempos. Essa espécie de “interesse contraditório” obviamente aperfeiçoa possibilidades, embora obviamente não devêssemos deixar o “simples gosto” interferir no que esse tipo de música pode realmente contribuir com o que é feito hoje em dia. Adrian McNally, pianista do The Unthanks, é responsável por tirar o conjunto desse mero limbo de “reciclagem” e realizar um diálogo contribuinte com a música contemporânea, ampliando as paisagens sonoras, fugindo da mesmice.

O grupo se foca nas partes mais “obscuras” das fábulas medievais para estabelecer ambientes contemplativos, tratando de incerteza, perseguição da beleza e liberdade. O talento de ambas as vocalistas fica óbvio em cada canção, assim como os arranjos meticulosos, criando atmosferas assombradas e intrigantes. Esse trabalho de ofuscamento das partes mais alegres das músicas altera a dinâmica comum meramente nostálgica que muitos conjuntos insistem em fazer desse tipo de música. É impressionante como o violino em Flutter é extremamente sufocante, enquanto a vocal suspira esperanças. Mas todo o clima da música se constrói em sensações decididamente opostas às palavras!

Toda a influência da música tradicional certamente carrega uma importância ímpar para grupos assim. Mas o sofrimento do Unthanks é exatamente sua força. É o sofrimento colocado em música de quem não é contemporâneo de sua época. Gravado em circunstâncias tão calmas, habitantes de uma cidade com cerca de trinta mil habitantes, a banda trata da ausência de determinada época e de como essa falta de virtude passada os atormenta. Veja bem, não é que eles insistem que o passado supera o presente. Trata-se de um registro de pessoas que perderam seu rumo e buscam algo porque tudo que lhes foi ensinado já está num passado distante. Por isso o trabalho de McNally é essencial para percebe-se o ponto dramático desse disco. Seu piano se estabelece entre construções nitidamente clássicas e inserções eletrônicas que soam destoadas, como se o presente estivesse confuso.

Outro ponto que evidencia essa colisão entre contos medievais e ambição contemporânea é a citação do poeta Charles Causley. Obviamente o Unthanks sabe doas parâmetros pós-modernos para criação artista, mas a história é simplesmente um pesadelo que eles não conseguem despertar. Melhor, então, inseri-la na sua visão de música. Pode-se sentir nas dinâmicas entre os instrumentos, principalmente no piano, um detalhamento sonoro voltado a coisas ultramodernas como trip hop ou nu jazz. Isso em letras que tratam de “donzelas” (sim, esse termo é utilizado) grávidas, ou quando o “sono de ouro” (sim, outro termo utilizado) beija os olhos de alguém.


Para ser claro, Mount the Air tem tudo para ser um disco revisionista monótono, com letras tão insossas que valem uma vomitada. Curiosamente não é. Tem-se aqui a elaboração de uma escuridão que contrapõe todas as expectativas.

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