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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Gustavo Jobim - A New Life in a New Planet [2015]

É raro hoje em dia encontrar algum paralelo para o corpo sonoro poderoso que Gustavo vem construindo. Estranhamente pouco citado, eu sempre me pego surpreso com a capacidade de sua música me “deslocar”. São tentativas muito verdadeiras de moldar sons tão densos em uma estética que “narre” algo. De alguma maneira, A New Life in a New Planet me soa como um desbravamento- uma única longa canção de quarenta minutos que tenta localizar espaços menos óbvios, localidades ainda não pensadas.

É por isso que A New Life in a New Planet tem uma sonoridade fantástica. É impressionante como uma quantidade absurda de efeitos variados em um mesmo instante consegue estabilizar marcas. Tenho isso como cenas na minha cabeça; cenas de dificuldade enorme, pois poucas coisas são realmente agradáveis nesse álbum. Se em Inverno tínhamos um poderoso solo de guitarra para nos orientar durante a passagem em um terreno nada hospitaleiro, nesse disco tudo soa como extraterrestre. Sons alienígenas tão surpreendentes como improváveis que invadem sem aviso algum qualquer zona de conforto. É por isso que insisto; ouvir cada álbum de Jobim é se surpreender.

Em seu bandcamp, Gustavo informa que esse trabalho é diferente dos anteriores, pois tem mais camadas e efeitos digitais. Eu me pergunto como foi o processo de criação, me parece que A New Life in a New Planet objetiva uma chegada bem obscurecida, se não inexistente. Eu nunca precisei de temas para ouvir música. Acho que é por isso que credito tanto a esse álbum. Há algo na música de Jobim que “só” ele consegue fazer. Não me refiro a tecnicismos como “densidade sonora”, musicalidade ou produção. Quero dizer que há certa “ordem” que não consigo identificar propriamente que traz essa sensação de “transe” durante toda a audição. Cada variação invoca uma nova imagem, de modo que temos uma justaposição bem ruidosa de elementos que se encontram nesse clima realmente “estranho” que Gustavo imputa ao disco.

A discografia de Gustavo está cheia de discos “climáticos”, ou seja, álbuns que nos deslocam enquanto ouvintes. Suas múltiplas abordagens refletem um artista interessado em não se repetir, e embora nós encontrássemos aqui muitos elementos semelhantes ao Tsunami, por exemplo, estes soam completamente autênticos. Repito, Jobim é um músico interessado em terrenos que não foram totalmente explorados, por isso as consecutivas audições de sua obra nos revela desbravamentos incessantes de diversos ângulos. Alguma força reside oculta sobre a diversidade sonora de New Life in a New Planet, mas ela sempre está tangível, sempre a deriva- como uma paisagem que ainda não vemos, ou uma localidade escondida atrás das árvores na beira da estrada.


O maior trunfo desse álbum é também sua maior, digamos, “inconveniência”. É nitidamente um disco difícil, mas realmente divertido à medida que vamos avançado. Ele parece que fica menos “escandaloso”, mas aquela estranheza inicial permanece. Ora, tamanha monstruosidade não era provocada pelo volume do barulho e pela soma dos efeitos, mas principalmente pelos sons que estes emitiam- um contraste gritante com o que estamos acostumados a ouvir. Algo difícil de encontrar mesmo nos recônditos mais profundos, algo novo.

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