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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Michel Banabila & Oene van Geel – Music for Viola and Electronics II [2015]

Ouvir trabalhos como Music for Viola and Electronics  II é algo recompensador. A interação entre Michel e Oene, que se conheceram na Cloud Ensemble, entusiasma pela dificuldade dos temas propostos e como estes são tratados com a densidade necessária. O tempo é estendido e seu andamento lento provoca suspense, pela repetição dos sons eletrônicos, um verdadeiro drone, para inserções pontuais do violino que, mesmo tentando evadir essa estrutura inicialmente rígida, constrói em sua “prisão” versos verdadeiramente bonitos. A relação é expressa cuidadosamente, em uma lenta comunhão que muitas vezes se extravai para além da percepção conceitual. É um tipo de música que trabalha intensamente com conceitos, mas está primariamente fundada no que essa imersão extracorporal realiza com nossas percepções. Até a “entrada” na parte mais sinistra do disco, que se inicia na segunda faixa, é uma transição de modo que o último período da música se estenda para outra- estamos claramente falando de prolongamentos.

Os eletrônicos densos e meditativos de Michel são perfurados quando combinados para a viola, mas não que um tenha necessariamente função oposta ao outro. Muitas vezes a viola cria o ambiente também enquanto a parte de Michel soa alto, revelando influências do dito dark ambient e do noise. De alguma maneira, é como se toda a potência de ambos os espectros tentasse ocupar o espaço do outro, não em forma de disputa, mas uma compreensão de possibilidades e o que tais atritos podem efetivamente criar. É certamente algo que soa além da simples soma entre sons mais “clássicos” dessas diferentes abordagens. Provavelmente releva um espaço novo sempre que tal atrito é criado, e por desconhecermos (e só estarmos dispostos a compreender o que nos viciou), foge de nossa apreensão.

Banabila disse recentemente que essa é apenas uma evolução natural de sua música, mas é engraçado como um músico de seu gabarito, que desde 1986 vem produzindo um corpo sonoro muito importante para a música eletroacústica, considera “evolução natural”. Obviamente mais minimalista que suas outras obras e menos seletivo (nesse álbum, por exemplo, não há inserção de nem um sample), também abdicou de uma espécie de multi etnicismo para algo que se aproxima às relações de causa-consequência.

Esse minimalismo focal, porém, cede muitas vezes espaços para construções cinematográficas. A última faixa lembra muito ambientes interioranos, e Oene nos apreende com violino e viola, onde as cordas variam entre o livre improviso e música clássica contemporânea. Essa música é exemplo da dualidade e confiança da dupla- nela, ambos os espectros realizam o livre improviso e uma construção mais metódica. Não consigo capturar o conceito de Music for Viola and Electronics II, talvez pelo que mencionei no primeiro parágrafo; a dificuldade em reconhecer novos territórios quando uma arte de vanguarda aponta elementos tão limítrofes. Curiosamente, quando os músicos convidados são introduzidos, que toda essa elaboração fica mais assimilável.


Passando por toda a obra Banabila (onde Spherics talvez seja a mudança completa de rumo) temos contrariedades inerentes à visão complexa que um artista tem da música. Onde as expectativas possíveis se equivocam a cada lançamento. Mas repito, é um corpo sonoro poderoso. Eu indicaria Spherics como o melhor ponto de inserção, porque os direcionamentos de seus discos nos deixa sempre a sensação de algo realmente “grande”. Onde meros “formatos” são dissolvidos em prol de um caráter mais honesto em um lugar que as sensações ficam em primeiro plano. Ou seja, um compromisso radical com sua visão de vida, que indubitavelmente está em cada segundo de suas músicas.

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