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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Magma - Slag Tanz [2015]

O que quer que aconteça no decurso de um disco do Magma, teremos a árdua tarefa de nos lançar para tentar “compreender o que se passa”. A surpresa pode ser de um cosmopolita ao ver um ritual de uma tribo canibal, por exemplo. Não controlamos nossa surpresa porque estamos em uma espécie de zona de conforto- até onde eu sei, a maioria das pessoas “simplesmente” ouve o que gosta, ou o que foram inclinadas à gostar, mas não vou entrar nesse mérito.

Ir a fundo numa música é tentar deixar de lado seus “gostos” e tentar se debruçar sobre uma criação e suas possibilidades. E não me refiro a “entender o que a banda quis passar”, mas que haja um compartilhamento que estimule uma dissecação do instituído. No caso do Magma, para encontrar uma conexão é, relativamente, complicado. Isso porque não é uma banda que opta por caminhos mais acessíveis, não subdetermina suas possíveis interpretações. É uma banda aberta, com uma estética que certamente não é passiva. Já li gente falar que ouvir Magma é uma “sessão” de terapia, mas, comigo, as coisas não acontecem dessa maneira. Magma é mais uma catálise, um rito em homenagem ao delírio e ao fantástico, numa compreensão borgeana.

“E se não há um compartilhamento possível, e se o artista tem uma proposta tão inversa à sua compreensão de arte?”. Eu poderia falar para simplesmente parar com essa merda, mas vou continuar com a música, vou tentar, pelo menos. Então surge o cômico, a usurpação de papéis fantásticos (daí a relação com Borges) para causar um riso no ouvinte. Não é um riso de troça, mas a sonoridade do impossível, do impensado. O nunca passa a ser concreto. Percebemos algo lentamente tomando forma e um monstro que, ao invés de nos assustar em estereótipos infantis, tem força o suficiente para significar algo. Aqui estão os doidos varridos, cantando vinte minutos num regozijo aural.

O ouvinte fornece suas convenções e o Magma desestrutura em um coro maluco, que apela aos sentidos que contrariam uma seriedade pressuposta por muitos que teorizam a música. É que o Magma é uma daquelas bandas que funda uma estética, que instalou uma forma nova de experiência que pode surgir com a música. E é esse “choque” (que invariavelmente vai cair mais para as risadas, mesmo) que tem desviado o rumo do tão chamado “rock progressivo” ao longo desses quarenta e cinco anos. Slag Tanz é tão esquisito quanto os melhores discos da banda e isso aqui é uma espécie de elogio. Impressionante como alguns gritos bem altos exteriorizam as mesmas sensações apreensivas (ao mesmo tempo exaltantes!) que demonstravam num longínquo 1973. Se o estigma de aberração cabe ao Magma, eles fazem por mérito.

Ao mesmo tempo em que pode ser impressionante como uma banda que se formou na década de 1960 ainda esteja junto, há um vácuo que poucas bandas ocupam como o Magma. É uma diferenciação da uniformização de bandas como Rolling Stones, por exemplo. É curioso e meio reducionista falar que eles seguem o estilo musical que eles fundaram, mas a corporificarão do líder, Vander, reflete com muita influência uma estética que, no mínimo, ele ajudou a aperfeiçoar. A banda francesa transpassa o arquétipo simples do psicodelismo para aderir, mesmo, a uma encenação bizarra. Em um resumo mais básico: eles criaram a própria língua e falam sobre o povo dessa língua que deixou o planeta e depois retornam para exteriorizar os defeitos da raça humana. Isso é uma operação mítica da banda, de transcender o realismo para criar uma fábula musical (até ai, nada demais, pois muitas bandas de Power metal fazem isso, não? A diferença é que essas bandas utilizam do mesmo modus operandi que outras do status quo, se ainda existe um status quo na música).


É uma música cuja natureza continua desafiadora e eu não recomendo isso para quem não esteja disposto. É um surto harmônico, cantando em um dialeto incompreensível com represálias à raça humana. Sim! Em um mundo onde a saturação das mídias especializadas apontam muitas variantes comercias de “esquisito”, o Magma é sempre uma boa referência para justificar o termo em seu mais glorioso ímpeto. Encontramos agressividade sônica muito diferente do “noise pop” que circula nos charts mais populares- nós encontramos o termo “bizarro” ampliado e definido musicalmente. E se alguém insistir na boba pergunta, “o que eles estão dizendo?”, revertemos a pergunta: “o que nossa música tradicional tem dito, mesmo?”.

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