CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

J.-P. CARON – ST (2014)


Formas indefinidas e contornos labirínticos se alternam à medida que Momentum I adere minha percepção. Eu tento, de alguma forma, encontrar elos que se conectem, mas o direcionamento que os ruídos apontam é inesperado, no caos dos seus detalhes- sons que brotam sem aparente origem e impactam com vozes quebradas, sussurros silenciados pelas próprias contraposições oferecidas na peça.

O acúmulo de espectros divergentes promove outra sensação de atravessamento no tempo, onde a percepção de continuidade é diferente da “habitual”. Empregar termos é inútil frente ao impacto dos registros obscuros, uma espécie de “onde estamos?”, “como eu vim parar aqui?”. As nossas concepções, a maioria delas reducionistas, são postas em xeque, exatamente por isso o único modo de analisar essa peça é através da experiência, não como modelo teórico (embora tenha certeza que não faltem embasamentos desse tipo), mas deixar Caron te guiar por esse universo obscuro.

Como a estrutura varia, à maneira que somos tomados por inter-rompimentos bruscos, contrastes sonoros- a importância do espaço íntimo ao nos controlar pelas nuances, pelos desvios. Caron consegue a proeza de embutir uma angústia contínua à medida que a peça avança e se incorpora. Também a exploração de microdetalhes injetados na vastidão dessa espécie de “pesadelo” proporcionada- ficamos mudos enquanto diferentes imagens surgem e desaparecem. Sem dúvidas os estudos de Caron devem influenciar muito na sua criação, mas o que fica pra mim são repetições orientadas mais pela intuição, uma intromissão de outro espaço temporal na nossa noção de realidade.

Como está no release, 8² vem sendo manipulada por Caron desde 2008, e eu penso como um período relativamente tão grande pode influenciar e modular a mesma obra, óbvio que não vou saber a resposta porque ouço a peça pronta em pleno 2014, mas ainda assim me pergunto qual foi a orientação de Caron, pois talvez esse universo que em sua aparência é tão “ilógico” tome nossa intimidade por completa. Obviamente que fico desprovido de respostas, mas à medida que vamos avançando, surge dúvidas quanto à necessidade destas- são sensações que tocam mais que o aparente, mais do que os conceitos. Estamos em um ambiente de outro tempo. Fomos invadidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário