As árvores cheias como estranhamente não permanecem no outono. Folhas longas e compridas, penduradas no cinza de um bairro que cheira abandono. E passeamos por aqui antes de você ficar fechado do outro lado, exilado em seu próprio país, olhando com clemência para um mundo intolerante, vestindo um branco encardido com as mãos presas em uma camisola que lembra tudo (doenças, sujeira, loucura) menos sono.
Agora dos meus quase trinta anos, eu ainda sinto sua ausência caminhar ao meu lado, como o grunhido das folhas mortas quando são excitadas pelo vento. Os vinte anos não voltam novamente, ficam presos na encruzilhada de nossas decisões ruins, nossas madrugadas bêbados que você tão distante, tão medicado e fora de si, deve ter contemplado justapostas às cenas que o cérebro cria quando fica encarcerado. Minhas quase trinta primaveras foram lances pueris, acontecimentos dos quais não me recordo: quando alguém próximo morre e qualquer instante é marcado pela imponência da ausência, deixando folhas secas e pálidas na guia de uma calçada esburacada.
E desde que eu passei a prestar atenção nessas árvores florescendo, nossas caminhadas surgem mais nítidas, como um folclore em que a realidade é a dimensão mais charmosa. Quase trinta primaveras parece ter um pouco de valor. Sobre essas calçadas esburacadas eu irei ver os vestígios das folhas incipientes, que (ainda) não nasceram.
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